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Dez lições sobre carreira que aprendi no mundo editorial

Dez lições sobre carreira que aprendi no mundo editorial
Gabrielle Caroccia
mar. 27 - 11 min de leitura
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Ah, o mundo editorial... a talentosa editora Gabi Caroccia reuniu 10 lições imperdíveis para quem deseja ingressar na profissão. Você vai descobrir que elas são valiosas para a sua área! ;)

Ah, o mundo editorial... esse ilustre desconhecido até mesmo por aqueles que adoram devorar um livro! Em quase dez anos de jornada nesse mundo pequeno e adorável, aprendi as mais diversas lições que um profissional da área poderia ter e sou realmente grata por todas as experiências, inclusive as ruins.

Porém, não trilhei meu caminho apenas por essas bandas, não. Também transitei pela área publicitária, como revisora e redatora, e pela área da tradução, como prestadora de serviços a uma agência durante três anos.

O mundo da retextualização envolve três importantes pilares: revisão, tradução e edição. Se você deseja se agarrar nele, fique atento a estas dez lições, creio que elas poderão ser de grande valia.

Lição 1 – Seja um observador!

Todo início é realmente um grande desafio, seja em qual área for. Porém, na área editorial, esse desafio tem um sabor diferente. Na faculdade de Letras, o estudante que deseja ser profissional do livro não vai aprender quase nada sobre o mundo editorial nas aulas teóricas. Mas existe a prática, e é por meio dela que a semente vai começar a germinar. Buscar estágio em departamentos editoriais vai ajudá-lo a ter mais contato com os pormenores de cada etapa da produção de livros e desvendar os segredos de todo o processo. Nem preciso dizer que vontade de aprender é um item crucial para o início da jornada, certo? Aproveite ao máximo o momento inicial para beber o conhecimento na fonte da prática e tocar o barco para a próxima lição!

Woman Looking on Telescope

Lição 2 – Mexa no queijo alheio!

Após a fase de observação da dinâmica do funcionamento dos processos editoriais, é hora de botar a mão na massa, ou melhor, no texto! Isso é uma real necessidade para consolidar o aprendizado na prática. Mesmo que você tenha passado no teste de revisão ou de preparação de textos e conquistado sua vaga na editora desejada, vai bater aquela insegurança na hora de mexer no queijo alheio.

Não se preocupe, é absolutamente normal. A palavra de ordem aqui é parcimônia, uma vez que não podemos descaracterizar o texto do autor. Sempre que tiver dúvidas, procure seu supervisor ou os colegas mais experientes, eles vão ajudá-lo!

Black and Red Typewriter

 

Lição 3 – Não transforme o queijo em beijo!

É aqui que mora o perigo e a beleza da coisa, pessoal. Interferir em textos de terceiros é altamente sedutor, porém é preciso ter cuidado. Você é revisor, preparador (ou copidesque) e se deparou com um texto carente de coesão e coerência?

Alto lá!

Vá com calma, meu amigo. A tentação de alterar as medidas da receita chamada “original do autor” pode ser grande, mas o estrago pode ser pior ainda, por melhores que sejam suas intenções.

Vou dar um exemplo: uma vez eu estava assistindo ao programa “Que Marravilha!”, do chef Claude Troisgros, no Multishow, e ele foi incumbido de reproduzir um prato típico (e bastante peculiar) do Maranhão. Veja bem o que aconteceu: o Claude acrescentou tantos ingredientes que o prato acabou se tornando exatamente outro!

O conselho também é válido para tradutores, pois existe uma linha muito tênue entre adaptação e tradução. Uma vez que esse limite é ultrapassado, a tradução não é mais o reflexo do autor, mas sim uma imagem distorcida e que pouco lembra suas feições originais.Brown Wooden Mouse Trap With Cheese Bait on Top

Lição 4 – Fuja do fogo da vaidade!

À medida que nos tornamos experientes em alguma área, é natural que venha conosco certa carga de arrogância travestida de segurança. Mais uma vez, alerta! E dos grandes! A gente nunca sabe tudo! Trago uma verdade: quem trabalha com revisão, edição e tradução de textos vai ser um eterno aprendiz.

Por quê?

Ora, porque sempre vão existir novas ferramentas de trabalho, novos erros para serem corrigidos e novas definições editoriais. Para quem trabalha com edição pedagógica, essa premissa torna-se ainda mais forte, pois leis, diretrizes educacionais e demandas de clientes (escolas parceiras da editora) podem mudar a qualquer tempo e, por essa razão, é preciso ficar bastante atento e não colocar o carro na frente dos bois por conta própria.

Autoconfiança é muito importante, mas equilibrar as forças que a compõem é mais essencial ainda!

Man Carrying Mirror

Lição 5 – Não se queime na fogueira das vaidades!

Sejamos honestos: a fogueira das vaidades está presente em quase todas as áreas profissionais e com a área editorial não poderia ser diferente. Portanto, o jogo de cintura e a sabedoria são necessários para se proteger.

Dependendo da empresa, pode existir competitividade entre editores, revisores e tradutores. Isso pode adoecer o ambiente de trabalho e fazer as coisas desandarem.

É preciso entender que todos os profissionais envolvidos no processo cooperem entre si, pois o livro é uma construção coletiva e briga de egos não é nem um pouco bem-vinda e saudável para alicerçá-lo.

A união faz a força e isso deve acontecer desde a fase de pré-produção editorial, ou seja, desde o contato com autores, analistas críticos ou pareceristas.

Cada profissional tem habilidades específicas que podem se complementar, e somente um bom gestor é capaz de enxergar e guiá-las de modo que haja sintonia entre a equipe.

 

Lighted Matchstick Lot

 

Lição 6 – Comunicação entre setores sempre!

Um case clássico disso é a “guerra” entre editores, revisores e diagramadores... Parece que ninguém se entende, ninguém fala a mesma língua! Só que não! Por mais que sejam mundos completamente diferentes, é necessário um diálogo aberto e totalmente assertivo entre as partes.

O diagramador (ou designer) é o profissional responsável pela estética do livro – trocando em miúdos: projeto gráfico, capa, inserção de textos e imagens de forma harmônica e alinhada com a proposta da publicação.

Ruídos e conflitos são naturais em qualquer tipo de relacionamento, mas o jeito de transformá-los em melhoria de processos é o que faz toda a diferença. Reunião de detalhamento do projeto, solicitações no texto editado em cores diferentes e linguagem clara, objetiva e específica são alguns poucos exemplos de como a comunicação entre editores, revisores e diagramadores pode fluir.

Claro, e não menos importante, a atenção também é um item crucial e indispensável para todas as partes envolvidas.Five Standing People Holding Message Clouds

Lição 7 – Visão do todo... como faz?

Saber o que cada setor faz e conhecer sua realidade é uma arte desafiadora. Para isso, reuniões e workshops são ferramentas essenciais a fim de que se conheçam e não se desdenhem.

Uma proposta bem interessante para que seja criada certa empatia nesse sentido é a troca de setores, por exemplo: os editores vão para o setor de faturamento e os analistas dessa repartição vão para o editorial.

Por meio dessa troca, as partes envolvidas poderiam executar serviços completamente diferentes dos que estão acostumadas e, com isso, ganhariam a oportunidade de ter contato direto com a dinâmica específica dos processos de cada setor.

Buscar conversar com colegas de outros setores, mesmo que informalmente, também é fundamental para desenvolver essa visão do todo, além de fortalecer vínculos e parcerias internas.

Vision Scrabble Blocks

Lição 8 – O rosto do livro tem olhos coletivos!

Retomemos alguns aspectos da lição 5. Um deles, de fundamental importância, é o fato de o livro ser uma construção coletiva. “Como assim? E o autor nessa história toda?” Muita calma nessa hora! O autor sempre dá a palavra final (literalmente) e ele permanece ativo durante todo o processo.

Após a entrega do original, o livro passa por uma série de processos que, dependendo da encomenda, pode durar mais de um ano! Nas fases de preparação do original, revisão linguística e cotejo, o ideal é que cada uma dessas etapas cruciais seja operada por profissionais diferentes.

Sabe por quê? Já pensou se apenas um desses profissionais realizasse tudo isso junto e misturado? Ele simplesmente não enxergaria coisinhas que poderia ter deixado escapar – o que é bastante normal e aceitável, afinal erro zero em uma primeira revisão é simplesmente um mito!

O profissional que se dói pelo fato de algum colega ter encontrado erros que deixou passar deve rever os próprios conceitos e praticar o desapego – afinal de contas, ele não é o dono do material!

Que fique bem claro: aqui desapego não significa apertar aquele famigerado botão e deixar a bomba explodir no colo alheio. Significa não se cobrar tanto, ser menos perfeccionista e entender que encontrar erros alheios é parte do processo da construção de qualquer livro!

Group Hand Fist Bump

Lição 9 – Prazos extremamente curtos? Processos internos sujeitos a guincho!

Este é um tema polêmico, uma vez que a maioria das editoras trabalha com prazos (ou deadlines) cada vez mais curtos em virtude de demandas que podem exigir menos tempo de produção – por exemplo: um best-seller internacional “hypado” que está bombando no mundo todo cuja versão brasileira precisa ser lançada praticamente ao mesmo tempo em que a original em língua estrangeira, ou então uma obra didática que está há muito tempo no mercado e as escolas que a utilizam querem algo mais atual e dinâmico como instrumento de trabalho para os professores (e, consequentemente, os alunos).

Mesmo que a encomenda seja urgente, ansiedade e falta de planejamento de processos costuma resultar em uma edição posterior (ou erratas) à atual que está sendo produzida com o máximo de vapor possível.

Acreditem, delinear um projeto de máxima urgência é mais complexo do que fazer o mesmo em relação a um projeto de prazo mais longo, pois é preciso saber quais etapas serão as mais indispensáveis e se preparar para possíveis imprevistos, porque eles podem e, na maioria das vezes, vão acontecer.

Agora, se nem processo houver, salve-se quem puder!

 

Brown Hourglass on Brown Wooden Table

Lição 10 – Um livro pode ser eterno!

Falando em edições posteriores (sim, há livros que chegam ou passam da 30ª edição), é justamente aí que reside a eternidade da obra!

Falhas podem acontecer, novas demandas podem surgir e... voilà! Lá vamos nós de novo trabalhar naquela obra que nem bem esfriou nos estoques.

Trago uma verdade chocante, porém de beleza ímpar: um livro é inacabado, só acaba quando a editora não decide mais publicá-lo. E ponto. Ou melhor, reticências...

Pile of Covered Books

 

Gabrielle Caroccia é editora de materiais didáticos na Editora Opet e proprietária da Recontrare – Redação de Conteúdo & Consultoria Linguística, cuja missão é auxiliar empresas dos mais diversos nichos de mercado a atingir um padrão de excelência nos textos produzidos para seus clientes.


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